Além do Estado e do Capital

FCO-1293 - A Rebelião [Ilustração] | Obras | Portinari

O território dominado pelo denominado estado do Espírito Santo, no Brasil, marcado pela riqueza de seu solo, pela força de seu agronegócio e pela dinâmica de seus portos, é mais um exemplo claro de como a exploração capitalista e estatal sequestra o fruto do trabalho coletivo.

Enquanto os trabalhadores capixabas geram riqueza através da mineração de mármore e granito, agricultura e logística, vivem sob a sombra da desigualdade, onde uma minoria concentra lucros e poder. Essa contradição revela uma verdade incômoda: a produção local é mais que suficiente para garantir vida digna a todos, mas o sistema vigente — sustentado pelo Estado e pelo capital — transforma trabalho em mercadoria e seres humanos em números. É diante desse cenário que afirmamos que a autonomia não é utopia; é uma necessidade urgente.

A economia capixaba, impulsionada por setores estratégicos, depende fundamentalmente da mão dos explorados, obrigados a vender sua força de trabalho para sobreviver. No entanto, o lucro, mais-valia, ou qualquer outra nomenclatura no mesmo sentido que se queira empregar, gerado por esses trabalhadores é desviada para enriquecer elites e corporações. O mármore, o minério de ferro que atravessa o território, o café colhido nas serras e os contêineres movimentados em Vitória são símbolos de um potencial subutilizado: se o povo organizasse diretamente a produção, distribuindo recursos de forma igualitária, não faltaria alimento, moradia ou acesso à saúde. Recordamos que cooperativas, assembleias populares e redes de apoio mútuo já demonstram que a autogestão é viável. No mesmo sentido, nunca cansaremos de repetir que o Estado, longe de ser um mediador neutro, atua como guardião dos privilégios de poucos.

De outro lado, a era digital oferece instrumentos poderosos para romper com as amarras hierárquicas. Plataformas de comunicação decentralizadas, criptomoedas comunitárias e redes sociais alternativas permitem que trabalhadores articulem greves, organizem distribuição de alimentos ou gerenciem demandas locais sem depender de estruturas burocráticas. Imaginemos, por exemplo, algo totalmente tangível no Espírito Santo, como uma rede de agricultores conectando-se diretamente a consumidores via aplicativos livres, eliminando intermediários que inflacionam preços. O mesmo poderia ser aplicado em todos os setores da sociedade, já que a tecnologia, longe de ser um fim em si, pode servir à emancipação: substituir a verticalidade do capital pela horizontalidade das comunidades.

O que vale para o Espírito Santo aplica-se ao Brasil e ao planeta. Se cada região assumisse o controle de seus recursos, interligando-se em uma teia de solidariedade, o colapso ambiental e a fome seriam combatidos coletivamente. A globalização capitalista, que destrói ecossistemas para alimentar o lucro, seria substituída por uma internacionalização das lutas, onde indígenas da Amazônia, operários de Vitória e camponeses da África compartilhariam conhecimento e apoio. A crise climática e a precarização do trabalho não têm fronteiras — tampouco deve ter a resistência.

É nesse contexto que a Federação Anarquista Capixaba (FACA) conclama todas as exploradas e explorados a rejeitar a ilusão de reformas dentro do sistema. O capitalismo e o Estado são vírus que corrompem toda tentativa de justiça. Construamos, a partir das ruínas deste modelo falido, comunidades baseadas na ajuda mútua, na democracia direta e na ética anticapitalista. O Espírito Santo tem os recursos e o povo; o mundo tem a tecnologia e a urgência. Juntos, somos capazes de criar um novo mundo — onde a liberdade não seja privilégio, mas o alicerce da existência. A revolução não virá de cima: nascerá das mãos daqueles que ousam sonhar e agir.

Pela revolução social!

Federação Anarquista Capixaba – FACA

 

 

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