Rumo à Anarquia

Por Errico Malatesta

É muito freqüente acreditar que pelo fato de dizermo-nos revolucionários, achamos que o advento da anarquia deva produzir-se de uma só vez, como conseqüência imediata de uma insurreição, que abateria de forma violenta tudo o que existe e o substituiria por instituições verdadeiramente novas. Para dizer a verdade, não faltam camaradas que assim concebem a revolução.

Este mal-entendido explica porque entre nossos adversários, muitos creem, de boa fé, que a anarquia é uma coisa impossível; e isto também explica porque certos camaradas, vendo que a anarquia não pode medrar repentinamente, tendo em vista as condições morais atuais da massa, vivem entre um dogmatismo que os põe fora da vida real e um oportunismo que os faz quase esquecer que são anarquistas e, nesta qualidade, devem combater a favor da anarquia.

Ora, é certo que o triunfo da anarquia não pode ser efeito de um milagre, assim como não pode produzir-se a despeito de, e em contradição com a lei da evolução: que nada aconteça sem causa suficiente, que nada se possa fazer se faltar a força necessária.

Se quiséssemos substituir um governo por outro, isto é, impor nossa vontade aos outros, bastaria, para isto, adquirir a força material indispensável para abater os opressores e colocarmo-nos em seu lugar.

Mas, ao contrário, queremos a Anarquia, isto é, uma sociedade fundada sobre o livre e voluntário acordo, na qual ninguém possa impor sua vontade a outrem, onde todos possam fazer como bem entendem e concorrer voluntariamente para o bem-estar geral. Seu triunfo só será definitivo, universal, quando todos os homens não mais quiserem ser comandados nem comandar outras pessoas, e tiverem compreendido as vantagens da solidariedade para saber organizar um sistema social no qual não haverá mais marca de violência e de coação.

Por outro lado, assim como a consciência, a vontade, a capacidade, aumentam gradualmente e só podem encontrar oportunidade e meios de se desenvolverem na transformação gradual do meio e na realização das vontades à medida em que elas se formam e se tornam imperiosas; assim, também, a anarquia instaurar-se-á pouco a pouco, para se intensificar e se ampliar cada vez mais.

Não se trata, portanto, de chegar à anarquia hoje ou amanhã, ou em dez séculos, mas caminhar rumo a anarquia hoje, amanhã e sempre.

A anarquia é a abolição do roubo e da opressão do homem pelo homem, quer dizer, a abolição da propriedade individual e do governo; a anarquia é a destruição da miséria, da superstição e do ódio. Portanto, cada golpe desferido nas instituições da propriedade individual e do governo, é um passo rumo à anarquia, assim como cada mentira desvelada, cada parcela de atividade humana subtraída ao controle da autoridade, cada esforço tendendo a elevar a consciência popular e a aumentar o espírito de solidariedade e de iniciativa, assim como a igualar as condições.

O problema reside no fato de saber escolher a via que de fato nos aproxima da realização de nosso ideal, e de não confundir os verdadeiros progressos com essas reformas hipócritas, que, a pretexto de melhorias imediatas, tendem a afastar o povo da luta contra a autoridade e o capitalismo, a paralisar sua ação e a deixá-lo esperar que algo possa ser obtido pela bondade dos patrões e dos governantes. O problema consiste em saber empregar o quinhão de forças que possuímos e que adquirimos de modo mais econômico e mais útil ao nosso objetivo.

Hoje, em todos os países há um governo que, pela força brutal, impõe a lei a todos, obriga-nos a nos deixar explorar e a manter, quer isto nos agrade ou não, as instituições existentes, a impedir que as minorias possam colocar em ação suas idéias e que a organização social, em geral, possa modificar-se segundo as variações da opinião pública. O curso regular, pacífico, da evolução parou pela violência, e é pela violência que será preciso abrir-lhe caminho. É por isso que queremos a revolução violenta, hoje, e a queremos sempre assim, pelo tempo que quiserem impor a alguém, pela força, uma coisa contrária à sua vontade. Suprimida a violência governamental, nossa violência não teria mais razão de ser.

Não podemos, no momento, destruir o governo existente, talvez não possamos, amanhã, impedir que sobre as ruínas do atual governo, um outro surja; mas isto não nos impede, hoje, assim como não nos impedirá, amanhã, de combater não importa que governo, recusando submetermo-nos à lei toda vez que isto nos for possível, e opor a força à força.

Toda vez que a autoridade é enfraquecida, toda vez que uma grande parcela de liberdade é conquistada e não mendigada, é um progresso rumo à anarquia. Da mesma forma, também é um progresso toda vez que consideramos o governo como um inimigo com o qual nunca se deve fazer trégua, depois de nos termos convencido que a diminuição dos males por ele engendrados só é possível pela redução de suas atribuições e de sua força, não pelo aumento do número dos governantes ou pelo fato de elegê-los pelos próprios governados. E por governo entendemos todo homem ou agrupamento de indivíduos, no Estado, nos Conselhos, na municipalidade ou na associação, que tenha o direito de fazer a lei ou de a impor àqueles a quem ela não agrada.

Não podemos, no momento, abolir a propriedade individual, não podemos neste instante dispor dos meios de produção necessários para trabalhar livremente; talvez ainda não possamos quando de um próximo movimento insurrecional; mas isto não nos impede, a partir de hoje, assim como não nos impedirá, amanhã, de combater continuamente o capitalismo. Toda a vitória, por menor que seja, dos trabalhadores contra o patronato, todo esforço contra a exploração, toda parcela de riqueza subtraída aos proprietários e posta à disposição de todos, será um progresso, um passo rumo à anarquia. Assim, também, será um progresso todo fato que tenda a aumentar as exigências dos operários e a dar mais atividade à luta, todas as vezes que pudermos encarar o que tivermos ganhado, como uma vitória sobre o inimigo, não como uma concessão à qual deveríamos ser agradecidos, toda vez que afirmamos nossa vontade de tomar pela força, aos proprietários, os direitos que, protegidos pelo governo, subtraíram dos trabalhadores.

Uma vez desaparecido da sociedade humana o direito da força, os meios de produção colocados à disposição daqueles que querem produzir, o resto será resultado da evolução pacífica.

A anarquia ainda não estaria realizada ou só o estaria para aqueles que a desejam, e somente para as coisas em que o concurso dos não-anarquistas não é indispensável. Ela se ampliará, assim, ganhando pouco a pouco os homens e as coisas, até abraçar toda a humanidade e todas as manifestações da vida.

Uma vez desaparecido o governo, com todas as instituições nocivas que protege, uma vez conquistada a liberdade para todos assim como o direito aos instrumentos de trabalho, sem o qual a liberdade é uma mentira, só pensamos destruir as coisas à medida em que pudermos substituí-las por outras. Por exemplo: o serviço de abastecimento é mal feito na sociedade atual. Ele se efetua de modo anormal, com grande desperdício de forças e de material, e somente em vista dos interesses dos capitalistas; mas, em suma, de qualquer modo que se opere o consumo, seria absurdo querer desorganizar este serviço, se não estamos prontos a assegurar a alimentação do povo de uma forma mais lógica e equitativa.

Existe o serviço dos correios, temos mil críticas a fazer-lhe, mas, no momento, servimo-nos dele para enviar nossas cartas ou para recebê-las, suportemo-lo, portanto, enquanto não pudermos corrigi-lo.

Existem escolas, infelizmente muito ruins, entretanto não desejaríamos que nossos filhos permanecessem sem aprender a ler e a escrever, esperando que possamos organizar escolas-modelos suficientes para todos.

Vemos, portanto, que para instaurar a anarquia não basta ter a força material para fazer a revolução, mas é também preciso que os trabalhadores associados, segundo os diversos ramos de produção, estejam em condições de assegurar, por eles próprios, o funcionamento da vida social, sem o auxílio dos capitalistas e do governo.

Pode-se também constatar que as idéias anárquicas, longe de estarem em contradição com as leis da evolução estabelecidas pela ciência, como o garantem os socialistas científicos, são concepções que se adaptam perfeitamente a elas: é o sistema experimental, transportado do campo das pesquisas para o das realizações sociais.

Fonte: https://bibliotecaanarquista.org/library/errico-malatesta-rumo-a-anarquia

Amor e Anarquia

Por Errico Malatesta

Pode parecer estranho que as questões relativas ao amor e todas aquelas a ele relacionadas preocupem mais a um grande número de homens e mulheres do que os problemas mais urgentes, senão mais importantes, e que deveriam chamar a atenção e concentrar esforços dos que buscam o modo de superar males que afligem a humanidade.

Encontramos diariamente pessoas submetidas ao comando das instituições atuais; pessoas obrigadas a alimentar-se mal e ameaçadas a qualquer momento de cair na mais profunda miséria pela falta de trabalho ou em decorrência de enfermidades; pessoas que se veem impossibilitadas de criar convenientemente os filhos, que morrem frequentemente por falta de cuidados necessários; pessoas condenadas a passar a vida sem ser um só dia donas de si mesmas, sempre a mercê dos patrões ou da polícia; pessoas para as quais o direito de ter uma família e o direito de amar é uma ironia sangrenta e que, contudo, não aceitam os meios que lhes propomos para libertar-se da escravidão política e econômica se antes não soubermos explicar-lhes de que maneira, numa sociedade libertária, a necessidade de amar encontrará sua satisfação e de que modo compreendemos a organização da família. E, naturalmente, esta preocupação se amplia e gera descuido e desprezo dos outros problemas nas pessoas que tenham resolvido, particularmente, o problema da fome e que se encontram em condições de poder satisfazer as necessidades mais imperiosas porque vivem num ambiente de relativo bem-estar.

Isto explica o imenso lugar que ocupa o amor na vida moral e material do homem, pois é no lar e na família que o homem passa a maior e a melhor parte de sua vida. Explica-se também por uma tendência em direção ao ideal que arrebata o espírito humano no momento em que este se abre para a conscientização.

Entretanto, o homem sofre sem dar-se conta dos sofrimentos, sem buscar remédios e sem rebelar-se; vive semelhante aos incapazes, aceitando a vida como ela se apresenta.

Mas, desde o instante em que começa a pensar e a compreender que seus males não se devem a insuperáveis fatalidades naturais, senão a causas humanas que os homens podem destruir, experimenta imediatamente uma necessidade de perfeição e deseja, idealmente ao menos, gozar de uma sociedade em que reine absoluta harmonia e em que a dor desapareça por completo e para sempre.

Esta tendência é muito útil, pois impulsiona a vida para frente, mas também se faz nociva quando, sob o pretexto de que é impossível alcançar a perfeição e suprimir todos os perigos e defeitos, nos aconselha a descuidar das realizações possíveis para continuar na mesma situação.

* * * *

Não temos nenhuma solução para os males do amor, pois eles não podem ser destruídos com reformas sociais, nem tampouco com uma mudança de costumes. Estão determinados por sentimentos profundos, poderíamos dizer fisiológicos do homem e que não são modificáveis. Quando o são isto se deve a uma lenta evolução e são imprevisíveis.

Queremos a liberdade; queremos que homens e mulheres possam amar-se e unir-se livremente sem outro motivo que o amor, sem nenhuma violência legal, econômica ou física.

Mas a liberdade, mesmo sendo a única solução que podemos e devemos oferecer, não resolve radicalmente o problema, pois o amor, para satisfazer-se, tem necessidade de duas liberdades que concordam e que frequentemente discordam; e deve-se levar em conta que a liberdade de fazer o que se quer é uma frase desprovida de sentido quando não se sabe o que querer.

É muito fácil dizer: “quando um homem e uma mulher se amam, juntam-se, e quando deixam de se amar, separam-se”. Entretanto, para que este princípio se converta em regra geral e segura de felicidade é necessário que ambos amem e deixem de se amar ao mesmo tempo. E se um ama mas não é correspondido? E se um continua amando e o outro não o ama mais e trata de satisfazer uma nova paixão? E se um ama ao mesmo tempo várias pessoas que não podem adaptar-se a esta promiscuidade?

“Sou feio”, dizia-nos certa vez um amigo. “Que farei se ninguém deseja me amar?” A pergunta nos leva ao riso mas nos deixa entrever verdadeiras tragédias.

Ainda preocupados com o mesmo problema, dizemos: “atualmente, se não encontro o amor, compro-o, ainda que tenha que economizar na alimentação. O que farei quando não houver mulheres que se vendam?” A pergunta é horrível, pois mostra o desejo de que seres humanos sejam obrigados pela fome a prostituir-se; mas é também terrível… e, terrivelmente, humano.

Algumas pessoas dizem que a solução poderia encontrar-se na abolição radical da família; na abolição da parceria sexual mais ou menos estável, reduzindo o amor somente ao ato físico ou, melhor dizendo, transformando-o, com a união sexual por acréscimo, num sentimento parecido à amizade, que reconheça a multiplicidade, a variedade, a contemporaneidade dos afetos.

E os filhos? Filhos de todos.

Pode ser abolida a família? Isto deve ser desejado?

Observemos antes de mais nada que apesar do regime de opressão e mentira que prevaleceu e prevalece ainda na família, esta tem sido e continua sendo o maior fator do desenvolvimento humano, pois é nela que o homem comum se sacrifica pelo homem e cumpre o bem pelo bem, sem desejar outra compensação que o amor da companheira e dos filhos.

Uma vez eliminadas as questões de interesses, todos os homens serão irmãos e se amarão mutuamente?

Certamente não se odiarão; o que podemos afirmar é que o sentimento de simpatia e de solidariedade se desenvolveria muito e que o interesse geral dos homens se converteria num fator importante na determinação da conduta de cada um.

Mas isto ainda não é o amor. Amar a todos se parece muito com não amar a ninguém.

Podemos talvez socorrer, mas certamente não podemos chorar por todas as desgraças porque nossa vida deslizaria para um vale de lágrimas, porém o pranto da simpatia é o consolo mais doce para um coração que sofre. A estatística das mortes e dos nascimentos pode nos oferecer dados interessantes para se conhecer as necessidades da sociedade; mas não dizem nada aos nossos corações. É materialmente impossível entristecermo-nos com cada homem que morre e regozijarmo-nos a cada nascimento.

E se não amamos uma pessoa mais vivamente que as outras; se não tivermos um só ser pelo qual não estejamos particularmente dispostos a sacrificarmo-nos; se não conhecemos outro amor que este amor moderado, vago, quase teórico, que podemos sentir por todos, não resultaria a vida menos rica, menos fecunda, menos bela? Não se veria diminuída a natureza humana em seus mais belos impulsos? Por acaso não nos veríamos privados dos gozos mais profundos? Não seríamos mais infelizes?

O amor é o que é. Quando se ama fortemente se sente a necessidade do contato, da possessão exclusiva do ser amado.

Os ciúmes, no melhor sentido da palavra, parecem formar e formam geralmente uma só coisa com o amor. Isto pode ser lamentável, mas não pode ser alterado arbitrariamente, nem tampouco segundo a vontade de quem o sofre.

Para nós o amor é uma paixão que engendra tragédias por si mesma. Estas tragédias, certamente, não se traduziriam mais em atos violentos e brutais se o homem tivesse o sentimento de respeito à liberdade alheia, se tivesse bastante controle de si para compreender que não se soluciona um mal com outro maior, e se a opinião pública não fosse, como hoje em dia, tão indulgente com os crimes passionais; mesmo assim as tragédias não deixariam de ser menos dolorosas.

Enquanto os homens tiverem os sentimentos que possuem – e uma troca no regime econômico e político da sociedade não nos parece suficiente para modificá-los por inteiro – o amor produzirá ao mesmo tempo grandes alegrias e grandes tristezas. Poder-se-á diminuí-los ou atenuá-los com a supressão de todas as causas que podem ser eliminadas, mas sua destruição completa é impossível.

Esta é uma das razões para não se aceitar nossas ideias e querer permanecer no estado atual? Responder afirmativamente seria fazer como aquele sujeito que não podendo comprar roupas luxuosas prefere ir nu, ou como aquele que não podendo comer perdizes todos os dias renuncia ao pão, ou ainda como o médico que dada a impotência da ciência atual ante certas enfermidades, nega-se a curar as que são passíveis de cura.

Eliminemos a exploração do homem pelo homem, combatamos a pretensão brutal do macho que se crê dono da fêmea; combatamos os preconceitos religiosos, sociais e sexuais; asseguremos a todos, homens, mulheres e crianças o bem-estar e a liberdade; propaguemos a instrução; e então poderemos regozijarmo-nos, com razão, se não permanecerem mais do que males de amor.

Em todo caso, os desafortunados no amor poderão procurar outros gozos, pois não acontecerá como hoje em dia que o amor e o álcool constituem os únicos consolos para a maior parte da humanidade.

Fonte: https://bibliotecaanarquista.org/library/errico-malatesta-amor-e-anarquia 

Apresentação

Quando de sua fundação, em 11 de setembro de 2022, a Federação Anarquista Capixaba – FACA assumiu para si a responsabilidade de agrupar as individualidades anarquistas no território dominado pelo Estado do Espírito Santo, contribuindo assim com a luta e transformação anticapitalista e antiautoritária.

Dessa forma, sabemos que a comunicação, troca e divulgação de ideias é fundamental para o desenvolvimento dos indivíduos e movimentos políticos e sociais, de modo que a FACA, inaugura este espaço digital público com a intenção de expor seus posicionamentos e atividades.

Que tenhamos aqui mais uma trincheira em prol da Liberdade.

Que viva a Anarquia sempre!

Federação Anarquista Capixaba – FACA

Contato: fedca@riseup.net

 

1º de Maio Autônomo, Combativo e Anarquista: um relato

Depois de muitos anos, o centro da cidade de Vitória, território dominado pelo estado do Espírito Santo, novamente viu tremular a bandeira preta e vermelha da anarquia.

Logo cedo, a partir das nove da manhã, os membros da Federação Anarquista Capixaba – FACA, bem como de diversos movimentos sociais e culturais, começaram a se agrupar para realização do ato do 1º de Maio. Uma estrutura com som fora providenciada, mesa gratuita com café da manhã (e mais tarde, almoço), exposição de livros, distribuição de panfletos, zines e jornais também marcaram o dia.

As quase seiscentas pessoas que compareceram ao ato, de norte a sul do estado, que também não deixou de ser um contraponto ao outro convocado pelas tradicionais centrais sindicais, respiraram, conspiraram e sonharam um mundo melhor, no qual o Capital e o Estado não mais ditam os rumos de nossa existência.

Que muitas outras jornadas de luta e protesto venham!

Pela anarquia, sempre!

Federação Anarquista Capixaba – FACA.

8M: Federação Anarquista Capixaba presente!

O Dia Internacional de Luta da Mulher Trabalhadora é uma data importante para discutir e também contribuir para organizar as lutas das mulheres na sociedade capitalista em que vivemos.

Historicamente, as mulheres enfrentaram inúmeras barreiras para conseguir ingressar no mercado de trabalho e ter acesso a empregos bem remunerados e de qualidade, para além de ainda suportarem o peso do patriarcado. A partir de suas lutas, as mulheres avançaram em diversas questões, como a igualdade salarial e a proteção contra a discriminação no ambiente de trabalho. Todavia, ainda há muito para lutar e combater enquanto o capitalismo e o estado nos mantêm em situação de submissão e exploração.

Assim, o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora também é uma oportunidade para refletir sobre os desafios que ainda precisam ser enfrentados para ultrapassar os limites da sociedade burguesa e nos proporcionar uma existência realmente digna.

E foi justamente nesse contexto que as camaradas da Federação Anarquista Capixaba (Faca) organizaram um encontro na cidade de Cariacica, território dominado pelo estado do Espírito Santo, onde debateram, conviveram e conspiraram para a construção do mundo novo que levamos em nossos corações!

Viva as Mulheres do mundo!

Morte ao Estado e ao Capital!

Vida longa à FACA!

Que viva a Anarquia!

Federação Anarquista Capixaba – FACA.

 

Manifesto de fundação da Federação Anarquista Capixaba – F.A.C.A.

Terras Capixabas – 11/09/2022

Nós, Anarquistas Capixabas, habitantes deste estado medieval carimbado por homens brancos colonizadores que nomearam nosso território de Espírito Santo – estes mesmos canibais do lucro, e do capitalismo.

No dia de hoje, 11/09/2022, nasce nossa Federação Anarquista Capixaba – F.A.C.A.

Esta organização nasce para a luta e resistência, no mar, no ar, nas fábricas, nos campos, nas periferias das cidades, nas matas, nos rios, sempre contra as indústrias mineradoras e poluidoras, petroleiras, agropecuárias, armamentistas, e tudo e todos que ferem o princípio do bem viver. Lutaremos contra o capitalismo, o Estado e seus tentáculos, para liquidar a exploração do homem pelo homem.

Lutaremos juntos lado a lado com os (as) indígenas e quilombolas e com os explorados e oprimidos para recuperação de seus territórios e direito à terra!

Nossa federação bebe na fonte antiautoritária e libertária, influenciando-se na indignação e na revolta, bem como na luta popular por melhores condições de vida.

Nossa organização surge através do ideal Anarquista com pilares baseados na solidariedade, apoio mútuo, autogestão e anticapitalismo, e também na luta por um território livre das amaras do famigerado modelo global capitalista.

E nesse contexto, registramos que a movimentação anarquista aqui, em terras capixabas, se iniciou no começo do século XX, através de operários e operárias trabalhadores da linha de ferro em Cachoeiro de Itapemirim, com greves e organizações anarcossindicalistas. As longas ditaduras brasileiras quase extinguiram o movimento. Porém, no final dos anos 1970 o anarquismo insiste em permear essa terra com um grito contra toda exploração e opressão e também contra a monotonia burguesa reinante no território do Espírito Santo.

Eis que os capixabas colocam o bloco na rua, e entre estudantes e punks o movimento cria novo corpo e se faz aflorar a necessidade de organização. São 40 anos de ações das mais diversas e até os dias de hoje continuamos a trilhar o caminho anarquista em busca de um território livre onde a vida seja valorizada. Ao longo de nossa trajetória realizamos greves, programas de rádio, produções de fanzines, jornais, livretos, poesias, artes plásticas, bandas musicais, encontros, grupos de estudos, intercâmbios, fóruns anarquistas, festas, manifestações, atos de protesto no Primeiro de Maio e Sete de Setembro, campanhas pelo voto nulo, grupos de teatro, cineclubes, oficinas, cursos de esperanto, participação em brigadas indígenas e lutas pelo território quilombola, ocupações urbanas, campanhas antirracistas, enfrentamento e combate ao fascismo, entre tantas outras frentes de lutas que travamos ao longo da nossa história.

Isso tudo nos faz refletir e agir; e hoje nesse dia 11/09/2022, dentro do Fórum Geral Anarquista, iniciamos a nossa mais nova ferramenta de organização e luta, a Federação Anarquista Capixaba (F.A.C.A). Cientes que estamos dispostos e prontos para resistir, somando forças com os que lutam por transformação social, quebrando paradigmas e dogmas burgueses, estatais, capitalistas e autoritários.

Assim, entendemos a necessidade de nos organizar no território brasileiro e mundial, portanto solicitamos neste ato adesão à Iniciativa Federalista Anarquista – IFA Brasil, associada à Internacional de Federações Anarquistas.

Com todas as pessoas exploradas, mulheres, crianças, idosos e minorias, caminharemos lado a lado com a bandeira negra empunhada para lutar.

Federação Anarquista Capixaba – FACA